Redação de Concurso Público – Modelo Grátis em PDF

Olá! Eu sou o professor André Gazola, do blog Lendo.org e hoje eu vou falar para vocês sobre minha redação do concurso Caixa 2014, na qual a minha nota foi 19.93, configurando a segunda maior do Brasil.

Esse foi o primeiro concurso que fiz na minha vida e o meu objetivo não era passar — era avaliar como as bancas estão perguntando as questões de Língua Portuguesa e o que seria necessário para melhorar minhas próprias aulas.

Escrito pelo professor André Gazola

André Gazola é professor de redação e língua portuguesa há 15 anos, foi avaliador de redações do ENEM por 3 anos e já levou centenas de alunos à aprovação em cursos concorridos como Medicina e Engenharia, em universidades federais e privadas. Além disso, foi orientador de artigos e TCCs em cursos de graduação por 4 anos e hoje é um grande entusiasta da inteligência artificial aplicada à educação. Atualmente produz conteúdo sobre redação para o Youtube, Instagram e Tiktok, além de gerenciar seus próprios treinamentos: o Meu Sonho de Redação e o ProfGPT.

→ Clique aqui para saber mais sobre a formação e experiência do professor.
→ Clique aqui para conhecer o canal do Youtube

Baixe aqui o arquivo em PDF com a redação completa. Fique à vontade para usá-lo como modelo para suas próximas redações de concurso.

Eu não estudei quase nada de conhecimentos bancários e vendas, marketing — temas principais da prova. Apesar disso eu fui aprovado no concurso.

Como?

Através de uma nota altíssima na redação.

Teve gente que tirou nota muito superior a minha na prova objetiva, mas tirou uma nota muito, muito baixa na redação ou até a zerou. Isso desclassifica na hora.

Então, devido a minha enorme nota, fiquei classificado na posição de 156º entre os mais de 6 mil inscritos em minha microrregião é que a de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.

É claro que isso foi uma surpresa, mas vou mostrar a vocês que não tem nenhum mistério em quase gabaritar uma redação de concurso público. E também vou falar pra vocês o porquê de eu não ter gabaritado.

Algumas coisas importantes antes de você prosseguir vendo este vídeo.

Primeiro: assista ao meu vídeo anterior sobre a estrutura básica do texto dissertativo. Nesse vídeo você vai aprender o básico daquilo que eu uso na minha redação da Caixa 2014.

Segundo: baixe minha redação para acompanhar junto.

Você pode baixar o arquivo PDF com a redação completa desse concurso. Conforme você vai vendo o vídeo, pode acompanhar no texto que eu escrevi.

Melhor ainda se você puder imprimir o texto para acompanhar comigo durante a explicação.

Ainda assim, no próprio vídeo você pode acompanhar o texto enquanto eu o for analisando.

Vamos lá!

O tema da redação era sobre a tecnologia. O candidato deveria defender, ou pelo menos argumentar, em torno dos pontos positivos e dos pontos negativos dos desenvolvimentos tecnológicos.

Aparecia um texto-base que falava do crescente problema em torno da obesidade dos jovens devido à falta de exercício, do sedentarismo — porque eles ficam o dia todo na frente do computador e acabam tendo doenças devido a isso. Era um texto-base bem pequeno.

Aqui está minha prova da Caixa. O caderno de questões e o rascunho da redação. Só pra você ver que eu realmente fiz a prova.

Vamos dar uma olhada em meu texto que eu intitulei Apocalípticos e Integrados: uma polaridade excludente.

Daqui a pouco nós vamos entender o porquê desse título. Aposto que muitos de você não vão entender sequer uma palavra dele, mas a grande questão de um título de redação é justamente jogar uma “isca” para seu leitor. Ele precisa pensar: sobre o que esse texto vai falar? o que é isso? o que esse título está dizendo?

Tem que gerar uma espécie de dúvida.

Então, na introdução, uso uma estrutura extremamente simples. Olhem o que eu escrevi:

Cada vez mais os avanços tecnológicos têm marcado as relações sociais, culturais e econômicas no mundo em que vivemos. Tal cenário criou um ambiente em que impactos positivos e negativos levaram à reflexão sobre os reais benefícios dessa evolução, uma vez que as novas gerações mostram-se fortemente influenciáveis pelas maravilhas que o brilho das telas pode lhes proporcionar.

Vejam. Nós temos duas frases nessa introdução. E é o suficiente.

Eu costumo indicar uma estrutura padrão de 3 frases por parágrafo em uma dissertação, mas não há problema em escrever duas.

Vejam minha primeira frase.

A primeira frase de todo parágrafo é chamada de tópico frasal. O que é isso?

É o momento em que quem escreve o texto vai dizer ao leitor: bem este parágrafo vai falar sobre isto. E no restante do parágrafo você deve continuar falando sobre aquele assunto, expandindo-o, argumentando em torno dele — se for um parágrafo argumentativo. Certo?

Então meu tópico frasal aqui nada mais é que uma reafirmação do tema da redação:

Cada vez mais os avanços tecnológicos têm marcado as relações sociais, culturais e econômicas no mundo em que vivemos.

Ok. Eu só afirmei. É uma afirmativa: os avanços tecnológicos influenciam nosso mundo, simplificando.

Segunda frase:

Tal cenário criou um ambiente em que impactos positivos e negativos…

Vejam como eu começo essa frase: Tal cenário. Que cenário? O cenário ou contexto em que os avanços tecnológicos estão influenciando o mundo em que vivemos. Vejam que essa expressão está retomando toda a ideia da frase anterior, e isso é muito importante em nosso texto — é um recurso que se chama mecanismo de coesão. É como se eu fosse “amarrar” o meu texto, deixar tudo “amarradinho”, tudo relacionado.

Isso é um dos tópicos de avaliação mais cobrados em redação de concursos públicos, porque o pessoal, em geral, não sabe fazer isso.

Percebam, então, de que forma eu utilizo isso em minha dissertação.

Vejam:

Tal cenário criou um ambiente em que impactos positivos e negativos levaram à reflexão sobre os reais benefícios dessa evolução

Qual evolução? A evolução dos avanços tecnológicos que eu cito no tópico frasal, na primeira frase. Então vejam que o “dessa evolução” também serve para criar a coesão do texto.

Vejam que logo depois do “dessa evolução” eu tenho uma vírgula e a expressão “uma vez que”. Ela é um conectivo com valor aproximado de “pois”. Ela tem um valor explicativo nesse contexto. Se eu substituísse: “pois as novas gerações mostram-se fortemente influenciáveis…”, o sentido se mantém – pelo menos de um modo aproximado.

O uso de conectivos para interligar nossas frases é muito importante para evitar a fragmentação de nosso texto, para “amarrá-lo” de maneira adequada.

A introdução acaba aqui. O que eu digo nela?

Digo que os avanços tecnológicos existem. Que esses avanços têm pontos positivos e negativos e que há pessoas  refletindo sobre esses benefícios, afinal há pontos negativos em torno deles.

Simplíssimo.

O segundo parágrafo é onde está o 1º argumento.

A estrutura  que eu sempre sugiro é:

  • Introdução
  • 1º argumento
  • 2º argumento
  • Conclusão

Em 30 linhas isso fica muito bom.

Aquela estrutura que alguns professores indicam, em que há 3 argumentos, vai gerar um problema muito sério: os 3 argumentos ficam curtos e superficiais, pelo simples motivo da falta de espaço. Em 30 linhas escrever 3 argumentos é muito complicado, então eu sempre sugiro usar 2 argumentos e é isso que faço aqui.

Então vejam o 1º parágrafo de argumento:

Ao lado desses jovens, os defensores das novas tecnologias – já definidos por Umberto Eco como o grupo dos “integrados” – salientam seus pontos positivos.

Vejam que esse é meu tópico frasal. O que eu faço aqui?

Primeiro uso uma expressão coesiva – ao lado desses jovens. Quais jovens? Aqueles que pertencem a essa geração que eu cito na última frase da introdução. Ou seja, estou retomando algo que eu já falei anteriormente.

Depois “os defensores das novas tecnologias – já definidos por Umberto Eco como o grupo dos “integrados”“. Vejam que aqui eu uso meu conhecimento de mundo. Eu sabia que existe um cara chamado Umberto Eco, que ele escreveu um livro chamado Apocalípticos e Integrados e nesse livro ele fala daqueles que defendem a tecnologia, chamando-os de integrados, e dos que abominam a tecnologia, chamando-os de apocalípticos. Tendo esse conhecimento, eu o uso e minha redação.

Eis o motivo de meu título — Apocalípticos e Integrados: uma polaridade (ou seja, dois polos distantes, dois extremos, os que defendem e os que demonizam) excludente, ou seja, que se neutraliza, que se exclui, afinal esses dois extremos não são soluções para o problema.

Nesse parágrafo estou deixando claro no tópico frasal que eu vou falar sobre os benefícios da tecnologia e daqueles que a defendem. E vejam como eu continuo:

Falam da enorme rapidez no âmbito das telecomunicações [1º exemplo de benefício], com recursos como a internet e telefonia móvel, dos avanços no tratamento e prevenção de doenças [2º benefício] e, principalmente, da democratização do acesso à informação [3º benefício]

Quando eu listar elementos é sempre interessante usar 3. É uma regra geral do jornalismo, pois como dizem “um é pouco, dois é bom, três é suficiente”, digamos assim.

E vejam como eu continuo:

algo que vem alterando, inclusive, o papel da escola em nossa sociedade.

Por que eu cito isso? Porque lá na introdução eu disse que a tecnologia está influenciando em nosso mundo, seja “social, cultural ou economicamente”. Então aqui eu falo da escola — a escola tem seu papel alterado através do uso da tecnologia porque ela permite o maior acesso à informação. Essa é uma questão social, cultural e, em algum sentido, econômica também.

Certo?

E finalmente a terceira frase do meu primeiro argumento, que tem uma função muito importante: ela tem que concluir meu argumento e, ao mesmo tempo, introduzir o próximo. Vejam como:

Todos são argumentos plausíveis, mas deixam de lado aqueles levantados pelo grupo dos “apocalípticos”, para usarmos ainda os termos do grande teórico italiano.

Vejam: eu digo que os argumentos são bons — esses que defendem a tecnologia –, porém eles esquecem-se dos argumentos usados pelo outro grupo, pelo outro extremo, que é o grupo dos apocalípticos, para continuar usando a nomenclatura do Umberto Eco, explicando quem ele é, porque anteriormente eu não tinha dito: um grande teórico italiano.

Aprenda a escrever argumentos fortes.

Dessa forma eu fecho meu primeiro argumento e introduzo o próximo, em que vou falar dos malefícios, dos pontos negativos da tecnologia , fazendo um contraponto ao primeiro argumento.

Vejam:

Esse grupo que demoniza tais inovações encontra respaldo em diversas situações negativas geradas por elas.

Vejam a primeira expressão do parágrafo: “esse grupo”. Qual grupo? O dos apocalípticos que eu acabei de citar, então essa é uma forma de gerar coesão, também.

Através do meu tópico frasal estou dando uma pista ao leitor: eu devo continuar quais são os malefícios causados pela tecnologia. Vejam a segunda frase:

Como exemplos pode-se citar o sedentarismo por parte dos jovens, que vem gerando doenças atreladas ao aumento das taxas de obesidade nos países em desenvolvimento,

Isso é algo que o texto de apoio trazia. É dessa forma que se usa o texto que acompanha as redações de concurso. É uma informação que eu não sabia, mas a usei baseado no texto de apoio da redação.

Continuando:

a onda de crimes virtuais que a inexistência de legislação específica permite e, ainda, a possibilidade de disseminação irrestrita de informações falsas ou errôneas, o que põe em xeque a referida democratização do acesso a esse bem.

Vejam que aqui eu também citei 3 pontos negativos do uso da tecnologia. Quais são eles?

  1. O sedentarismo que gera doenças nos jovens
  2. Os crimes virtuais
  3. A possibilidade de espalhar informações falsas ou erradas

E com isso eu termino o parágrafo. E vejam o que eu digo: a possibilidade de disseminar informações falsas deixa em perigo (põe em xeque, para usar um termo do xadrez)  a tal democratização do acesso à informação da qual eu falei no primeiro parágrafo de argumento, que é o segundo parágrafo do texto.

Então vejam como tudo fica “amarradinho” de uma forma que o texto faça sentido.

Vamos ver a conclusão, que é o último parágrafo. Ela começa assim:

Em vista do apresentado

Vejam que esse também é um conectivo. Também é uma forma de relacionar uma parte do texto a outra.

Muita gente usa aqui coisas mais simples como “Portanto”, “Concluindo”, “Em vista disso”. Expressões que também podem ser usadas.

Em vista do apresentado, torna-se importante salientar que a tecnologia trouxe inegáveis benefícios à vida contemporânea.

Ok, falei do meu primeiro argumento, falei do meu ponto positivo. Agora vou fazer o contraponto:

Apesar disso, é imprescindível que seu uso seja feito de maneira ponderada e consciente, de forma a reduzir ao máximo os riscos que pode representar.

Ou seja, no meu texto eu falei dos pontos positivos e negativos. Na minha conclusão eu vou juntar tudo isso e dizer o que é preciso fazer. Se o cenário é esse, como eu vou usar a tecnologia? De forma ponderada e consciente, minimizando os riscos.

E então eu concluo:

Além disso, a criação de uma legislação específica quanto ao uso da rede mundial de computadores é urgente – quem sabe estejamos próximos disso, no Brasil, com o marco civil da internet.

Vejam que a última frase está adicionando uma informação. Muita gente diz que na conclusão não se deve adicionar informações — isso é uma possibilidade, mas não é obrigatório. Por quê? Adicionando uma informação na conclusão:

  1. Eu estou expandindo o escopo do meu texto.
  2. Estou dizendo que eu falei de algumas coisas, mas há outras das quais eu poderia ter falado  e eu tenho conhecimento disso e essas outras coisas relacionam-se diretamente a meu assunto, caso do marco civil da internet, muito falado na época da realização da prova da Caixa de 2014.

Ok? Vejam como a estrutura da redação é extremamente simples. Ao assistir meu vídeo sobre a estrutura do texto dissertativo vai ver como eu uso esse modelo aqui.

Não tem segredo!

Agora a grande questão: por que eu não tirei 20, mas 19.93?

Se vocês olharem o parágrafo da conclusão, que é o último da redação, verão o seguinte:

  • Segunda frase: “Apesar disso, é imprescindível…”
  • Terceira frase: “Além disso, a criação de uma legislação específica…
  • E no final do texto: “quem sabe estejamos próximos disso, no Brasil, com o marco civil da internet”

Vejam como eu repeti 3 vezes a palavra disso. Essa repetição é palavras é o erro que cometi.

Percebi isso quando cheguei em casa. Obviamente eu sabia que não deveria cometer esse tipo de erro, mas não me dei conta ao escrever a redação. Esse é o erro do meu texto.

Repetir palavras é um dos erros mais comuns dos candidatos  e isso demonstra o quê?

  • Falta de vocabulário
  • Falta de conhecimento sobre os usos específicos da língua

Então o avaliador vai olhar para isso. Você deve, então, buscar sinônimos, formas diferentes de referenciar um elemento já citado e assim por diante.

Meu erro é algo banal, simples, de iniciante, mas que eu cometi, como qualquer um de nós poderia.

Espero que você tenha entendido, gostado da explicação. Qualquer dúvida ou pergunta você pode escrever nos comentários ou me enviar e-mail.

Não deixe de baixar o arquivo da redação pra você estudar com mais calma em casa. Imprima, faça anotações. É um exemplo de redação que você pode usar sempre, a partir de agora.

Qualquer coisa, você sabe: acesse o blog Lendo.org, entre em contato comigo, que eu vou ajudá-lo em suas dúvidas sobre redação.

Por hoje é isso, gente. Obrigado pela atenção e até mais!

Artigos Recentes